Martinho Lutero, em alemão Martin Luther, (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546)
foi um sacerdote agostiniano e professor de teologia alemão figura central da Reforma Protestante.
Veementemente contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus
sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517. Sua recusa em
retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua
excomunhão pelo papa e a
condenação como um fora da lei pelo imperador.
Lutero ensinava que a salvação não se consegue apenas
com boas ações, mas de um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça
através da fé em Jesus como um redentor do
pecado. Sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana,
pois ele ensinava que a Bíblia é a única fonte de
conhecimento divinamente revelada[1] e opôs-se ao
sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio santo.
[2] Aqueles que se
identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados luteranos.
Sua tradução da Bíblia em outros idiomas que
não o latim)
fez o livro mais acessível, causando um impacto gigantesco na Igreja e na
cultura alemã. Promoveu um desenvolvimento de uma versão padrão da língua alemã, adicionando vários princípios à arte
de traduzir[3], e influenciou a tradução para o inglês da Bíblia do Rei James.[4] Seus hinos influenciaram o
desenvolvimento do ato de cantar em igrejas.[5] Seu casamento comCatarina von Bora estabeleceu um modelo
para a prática do casamento clerical, permitindo o matrimônio de pastores
protestantes.[6]
Primeiros anos de vida
Martinho Lutero, cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, era filho de Hans Luther e
Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld, onde seu pai dirigia várias minas de
cobre. Tendo sido criado no campo, Hans Luther desejava que seu filho viesse a
se tornar um funcionário público, melhorando, assim, as condições da família.
Com esse objetivo, enviou o já velho Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.
Aos dezessete anos, em 1501,
Lutero ingressou na Universidade de Erfurt,
onde tocava alaúde e onde recebeu o apelido de O Filósofo. Ainda na
Universidade de Erfurt, estudou a filosofia nominalista de Ockham
O jovem estudante graduou-se bacharel em 1502 e concluiu o mestrado
em 1505,
sendo o segundo entre dezessete candidatos[8]. Seguindo os desejos maternos,
inscreveu-se na escola de Direito da mesma Universidade. Mas tudo mudou após
uma grande tempestade com descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505):
um raio caiu próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à
casa dos pais. Aterrorizado, teria, então, gritado: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!Tendo
sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com
exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Frankfurt, a 17 de julho de 1505.
O jovem Martinho Lutero dedicou-se por
completo à vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de
agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas.
Dedicou-se intensamente à meditação, às autoflagelações, às muitas horas de
oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser
agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados.
Johann
von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava
de mais trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão. Ordenou,
portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507,
Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508,
começou a lecionar Teologia na Universidade
de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em Estudos bíblicos a 19 de março de 1508.
Dois anos depois, visitou Roma,
de onde regressou bastante decepcionado.[11]
Em 19 de outubro de 1512,
Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi
"recebido no Senado da Faculdade Teológica" com o título de
"Doutor em Bíblia". Em 1515,
foi nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.
Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e
origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que logo
utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.
A
controvérsia acerca das indulgências
Além de suas atividades como professor,
Martinho Lutero ainda colaborava como pregador e confessor na igreja de Santa
Maria, na cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de
"Todos os Santos" - porque ali havia uma coleção de relíquias,
estabelecidas por Frederico III da Saxônia). Foi durante esse período que o jovem
sacerdote se deu conta dos problemas que o oferecimento de indulgências aos fiéis, como se
esses fossem fregueses, poderia acarretar.
A indulgência é a remissão (parcial
ou total) do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados.
Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo,
quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório. O frade Johann Tetzel fora recrutado para
viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto
de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objetivo de
financiar as reformas da Basílica de São Pedro,
em Roma.
Lutero viu este tráfico de indulgências como
um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas
indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros.
Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517.
Segundo a tradição, a 31 de outubro de 1517 foram afixadas
as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre
elas. Essas teses condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como um
abuso e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam.
Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava diretamente a
autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.
As 95 Teses foram logo traduzidas
para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas se
haviam espalhado por toda a Alemanha e, em dois meses, por
toda a Europa.
Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel
fundamental, pois facilitou a distribuição simples e ampla do documento.
A
resposta do Papado
Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo
que ele seria um "alemão bêbado que escrevera as teses", e
afirmando que "quando estiver sóbrio mudará de opinião"[12] o Papa Leão X ordenou, em1518,
ao professor de teologia dominicano Silvestro
Mazzolini que investigasse o
assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade
do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas.
Declarou ser Lutero um herege e escreveu uma
refutação acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a
Igreja e condenava as teorias de Lutero como um desvio e uma apostasia.
Lutero replicou de igual forma
(academicamente), dando assim início à controvérsia.
Enquanto isso, Lutero tomava parte da
convenção dos agostinianos em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a
escravidão do homem ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia
sobre as indulgências, o debate se elevou até o ponto de duvidar do poder
absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas de "Tesouraria da
Igreja" e "Tesouraria dos Merecimentos", que serviam para
reforçar a doutrina e venda e das indulgências, haviam se baseado na bula papal
"Unigenitus", de 1343,
do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição a esta
doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca e o Papa, decidido a suprimir
por completo os seus pontos de vista, ordenou que ele fosse chamado a Roma,
viagem que deixou de ser realizada por motivos políticos.
Lutero, que anteriormente professava a
obediência implícita à Igreja, negava agora abertamente a autoridade papal e
apelava para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que o papado não
formava parte da essência imutável da Igreja original.
Desejando manter relações amistosas com o
protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, o Papa engendrou uma
tentativa final de alcançar uma solução pacífica para o conflito. Uma
conferência com o representante papal Karl
von Miltitz em Altenburg, em janeiro de 1519, levou Lutero a
decidir guardar silêncio, tal qual seus opositores. Também escreveu uma humilde
carta ao Papa e compôs um tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja
Católica. A carta nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma
retratação; e no tratado que compôs mais tarde, negou qualquer efeito das
indulgências no Purgatório.
Quando Johann
Ecko desafiou um colega de
Lutero, Andreas
Carlstadt, para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho-18 de julho de 1519),
no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade
de possuir o as chaves do Céu que, segundo ele,
haviam sido outorgadas apenas ao próprio Apóstolo Pedro, não passando para seus sucessores.[13][14]Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a
autoridade do Papa, mas que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Eck
afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a
de João Huss, que havia sido queimado na fogueira da Inquisição.
Aumenta a cisão
Lutero durante os
acontecimentos
Não parecia haver esperanças de entendimento.
Os escritos de Lutero circulavam amplamente, alcançando França, Inglaterra e Itália, em 1519, e os estudantes dirigiam-se a
Wittenberg para escutar Lutero que, naquele momento, publicava seus comentários
sobre a Epístola aos Gálatas e suas "Operationes
in Psalmos" (Trabalho nos Salmos).
As controvérsias geradas por seus escritos
levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão
sobre o Sacramento Abençoado do
Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades", ampliou o
significado da Eucaristia para incluir também o
perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé naqueles que a recebem. Além
disso, ele ainda apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a
comunhão.
O conceito luterano de "igreja" foi
desenvolvido em seu "Von dem Papsttum zu Rom" (Sobre o Papado
de Roma), uma resposta ao ataque do franciscanoAugustin
von Alveld, em Leipzig (junho de 1520).
Enquanto o seu "Sermon von guten Werken" (Sermão das Boas
Obras), publicado na primavera de 1520, era contrário
à doutrina católica das boas obras e dos atos como meio de perdão, mantendo que
as obras do crente são verdadeiramente boas, quer para o secular como para o
clérigo, se ordenadas por Deus.
Os
tratados de 1520
A Nobreza alemã
A disputa havida em Leipzig, em 1519, fez com que
Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que por
sua vez também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von
Sickingen e Silvestre de
Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o
para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal.
Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando
aos nobres alemães, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã"
(agosto de 1520), onde recomendava ao laicado,
como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus, mas
abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa
como o Anticristo[15].
As reformas que Lutero propunha não se referiam
apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos:
a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte
papal;
a abolição das rendas do Papa;
o reconhecimento do governo secular;
a renúncia da exigência papal pelo poder temporal;
a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a
excomunhão;
a abolição das peregrinações nocivas;
a eliminação dos excessivos dias santos;
a supressão dos conventos para monjas, da
mendicidade e da suntuosidade; a reforma das universidades;
a ab-rogação do celibato do clero;
e, finalmente, uma reforma geral na moralidade
pública.
Muitas destas propostas refletiam os interesses da
nobreza alemã, revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o
fato de terem que enviar riquezas a Roma.
O cativeiro babilônico
Lutero gerou muitas polêmicas doutrinárias com seu
"Prelúdio no Cativeiro Babilônico da Igreja", em especial no
que diz respeito aos sacramentos.
Eucaristia - apoiava que fosse devolvido o
"cálice" ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação,
afirmava que era real a presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia,
mas refutava o ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por
Deus.
Batismo - ensinava que trazia a
justificação apenas se combinado com a fé salvadora em o receber; de fato,
mantinha o princípio da salvação inclusive para aqueles que mais tarde se
convertessem.
Penitência - afirmou que sua essência
consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.
Para ele, apenas estes três
sacramentos podiam assim ser considerados, pois sua instituição era divina e a
promessa da salvação de Deus estava conexa a eles. Contudo, em sentido estrito,
apenas o batismo e a eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas
eles tinham o "sinal visível da instituição divina": a água no
batismo e o pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação (Crisma),
o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos.
Liberdade de um Cristão
Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina
de Lutero sobre a salvação e a vida cristã foi exposto em "A Liberdade
de um Cristão" (publicado em 20 de novembro de 1520,
onde exigia uma completa união com Cristo mediante a palavra através da fé, e a
inteira liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre todas as coisas
exteriores, e um perfeito amor ao próximo).
As duas teses que Lutero desenvolve nesse tratado
são aparentemente contraditórias, mas, em verdade, são complementares:
"O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a
ninguém sujeito";
"O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a
todos sujeito".
A primeira tese é válida "na fé"; a
segunda, "no amor".
A
excomunhão
A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero,
com a bula "Exsurge Domine",
onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de sessenta dias,
repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja..
Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito
"A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase
significativa:
"Eu não me submeto a leis ao interpretar a
palavra de Deus".
Enquanto isso, um rumor chegara
de que Johan Ech saíra de Meissem com uma proibição papal, enquanto
este se pronunciara realmente a 21 de setembro. O último esforço de paz de
Lutero foi seguido, em 12 de dezembro, da queima da bula, que já tinha
expirado há 120 dias, e o decreto papa de Wittenberg, defendendo-se com seus
"Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher verbrannt sind" e
"Assertio omnium articulorum". O Papa Leão X excomungou Lutero a 3 de janeiro de 1521,
na bula "Decet Romanum Pontificem".
A execução da proibição, com
efeito, foi evitada pela relação do Papa com Frederico III
da Saxônia, e pelo novo imperador, Carlos I de Espanha (Carlos V de Habsburgo), que
julgou inoportuno apoiar as medidas contra Lutero, diante de sua posição face à Dieta.
A Dieta de Worms
O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real a 22 de janeiro de 1521.
Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e foi-lhe outorgado um
salvo-conduto para garantir-lhe o seguro deslocamento.
A 16 de abril, Lutero
apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck, assistente do Arcebispo de Trier,
mostrou a Lutero uma mesa cheia de cópias de seus escritos. Perguntou-lhe,
então, se os livros eram seus e se ele acreditava naquilo que as obras diziam.
Lutero pediu um tempo para pensar em sua resposta, o que lhe foi concedido.
Este, então, isolou-se em oração e depois consultou seus aliados e amigos,
apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do
assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse explicitamente à
seguinte questão:
"Lutero, repeles seus livros e os erros que
eles contêm?"
Lutero, então, respondeu:
"Que se me convençam mediante testemunho
das Escrituras e claros argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa
nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados,
contradizendo-se a si mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei,
estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não
posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não
é seguro nem saudável."
De acordo com a tradição, Lutero,
então, proferiu as seguintes palavras:
"Não posso fazer outra coisa, esta é a
minha posição. Que Deus me ajude![16]
Nos dias seguintes, seguiram-se
muitas conferências privadas para determinar qual o destino de Lutero. Antes
que a decisão fosse tomada, Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a
Wittenberg, desapareceu.
O Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho
Lutero fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras.
Processo Romano
Em Junho de 1518, foi aberto o processo
contra Lutero, com base na publicação das suas 95
Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele
incorria em heresia. Nas aulas que
ministrava na Universidade de Wittenberg, espiões registravam seus comentários
negativos sobre aexcomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado
para heresia notória. Lutero foi convidado a ir a Roma, onde teria que
desmentir sua doutrina.
Lutero
recusou-se a fazê-lo, alegando razões de saúde; e pretendeu uma audiência em
território alemão. O seu pedido baseava-se no argumento (Gravamina) da Nação Alemã.
Seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência com o cardeal Caetano
de Vio (Tomás Caetano),
durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de
Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518, Lutero falou a
Caetano. Este pediu-lhe que revogasse sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo.
Do lado romano, o caso pareceu
terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (Janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos no andamento do processo. O
Imperador tinha decidido que o seu sucessor seria Carlos (futuro Carlos
V). Por causa das pertenças de Carlos em Itália, o
papa renascentista Leão X receava o
cerco do Estado da Igreja e procurava evitar que os príncipes-eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.
O papel de protetor de Lutero assumido
por Frederico,
o sábio, levou a que Roma pedisse que Karl von Miltiz
intercedesse junto ao príncipe por uma solução razoável. Após a escolha de Carlos
V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltaria a ser alvo de preocupações e
trabalhos.
Em junho de 1520, reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini"
e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero.
Seguiu-se, então, a ameaça oficial do imperador (Reichsacht).
Notável é, no entanto, que Lutero foi,
mais uma vez, recebido em audiência, o que também deixou claras as diferenças
entre o papado e o império. Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser
coroado imperador pelo papa. Nos dias 17 e 18 de Abril de 1521 Lutero foi
ouvido na Dieta de Worms (conferência
governativa) e, após ter negado a revogação da sua doutrina, foi publicado o Édito
de Worms, banindo Lutero.
Exílio no Castelo de Wartburg
O seqüestro de Lutero durante a sua
viagem de regresso da Dieta de Worms foi
arranjado. Frederico,
o sábio ordenou que Lutero
fosse capturado por um grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para
o Castelo
de Wartburg, em Eisenach, onde ele
permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou as vestes de um
cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na
sua célebre tradução daBíblia para o alemão.
Com o início da estadia de Lutero em
Wartburg, começou um período muito construtivo de sua carreira como reformista.
Em seu "Deserto" ou "Patmos" (como ele mesmo chamava, em suas
cartas) de Wartburg, começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.
Em
Wartburg, ele produziu outros escritos, preparou a primeira parte de seu Guia para Párocos e "Von der Beichte" (Sobre
a Confissão), em que nega a obrigatoriedade da confissão, e
admite como saudável a confissão privada voluntária. Também escreveu contra o Arcebispo Albrecht, a quem obrigou, com isso, a desistir de
retomar a venda das indulgências. Em seus ataques a Jacobus Latomus, avançou em sua visão sobre a
relação entre a graça e a lei,
assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o objetivo da
graça de Deus para o pecador que, por acreditar, é justificado por Deus devido
à justiça de Cristo, pois a graça salvadora reside dentro do homem pecador.
Ainda mostrou que o "princípio da justificação" é insuficiente, ante
a persistência do pecado depois do batismo - pela inerência do pecado em cada
boa obra.
Lutero,
amiúde, escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo-lhes ou
perguntando-lhes por seus pontos de vista e respondendo-lhes aos pedidos de
conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu perguntando como
responder à acusação de que os reformistas renegavam a peregrinação e outras
formas tradicionais de piedade. Lutero respondeu-lhe em 1 de agosto de 1521:
"Se és um pregador da misericórdia,
não pregues uma misericórdia imaginária, mas sim uma verdadeira. Se a
misericórdia é verdadeira, deve penitenciar ao pecado verdadeiro, não
imaginário. Deus não salva apenas aqueles que são pecadores imaginários.
Conheça o pecador, e veja se os seus pecados são fortes, mas deixai que tua
confiança em Cristo seja ainda mais forte, e que se alegre em Cristo que é o
vencedor sobre o pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto
estivermos aqui, porque nesta vida não há um só lugar onde resida a justiça.
Nós todos, sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro 3:13), estamos buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde
a justiça reinará".
Enquanto isso, alguns sacerdotes saxônicos haviam renunciado ao
voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos
monásticos. Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre os votos monásticos), aconselhava-os a ter mais cautela, aceitando,
no fundo, que os votos eram geralmente tomados "com a intenção da salvação ou
à busca de justificação". Com a aprovação de Lutero em seu "De abroganda missa privata (Sobre a abrogação da missa privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os agostinianos de Wittenberg realizaram a troca das formas
de adoração e terminaram com as missas. Sua violência e intolerância certamente
desagradaram Lutero que, em princípios de dezembro, passou alguns dias entre
eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu "Eine treue Vermahnung … vor Aufruhr und Empörung" (Uma sincera admoestação por Martinho Lutero a todos os
cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião). Apesar disso, em
Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel
Zwilling reclamavam a abolição
da missa privada e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação das
imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato.
Regresso a Wittenberg e os Sermões
Invocavit
No final do ano de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à anarquia. Contrário a tais concepções radicais e
temendo seus resultados, Lutero regressou em segredo a Wittenberg, em 6 de março de 1522. Durante oito dias, a partir de 9 de março (domigo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte,
Lutero pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como os "Sermões
de Invocavit".
Nessas
pregações, Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve em consideração a
consciência daqueles que ainda não estivessem persuadidos a acolher a Reforma. A consagração do pão foi restaurada por
um tempo e o cálice sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o
desejaram. O cânon das missas, devido ao
seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento da confissão ter
sido abolido, verificou-se a necessidade que muitas pessoas ainda tinham de
confessar-se em busca do perdão. Esta nova forma de serviço foi dada a Lutero em
"Formula missæ et communionis" (Fórmula da missa e Comunhão),
de 1523. Em 1524 surgiu o primeiro hinário de Wittenberg,
com quatro hinos.
Como
aquela parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira
seus escritos, Lutero declarou que a autoridade civil não podia promulgar leis
para a alma. Fez isso em sua obra: "Über die weltliche Gewalt, wie weit
man ihr Gehorsam schuldig sei" (Autoridade Temporal: em que medida
deve ser obedecida).
Matrimônio e família
Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de 1525. Dessa união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que manteve a linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da família Lutero é o ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.
O
casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento
de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento
definitivo com a Igreja Romana.
Falecimento
O ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve
morte natural, embora não haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da
sua causa de morte. O historiador Frantz Funck-Brentano, por exemplo, escreveu
em sua obra "Martim Lutero":
"Os
dois médicos, que o tinham tratado nos últimos momentos, não puderam chegar a
um acordo sobre a causa de sua morte, opinando um por um ataque de apoplexia,
outro por uma angina pulmonar."
A
propósito, em 1521, por ocasião da Dieta de Worms (uma espécie de audiência
imperial), foi publicado pelo Imperador Carlos V o Edito de Worms, pelo qual
qualquer pessoa, ao menos teoricamente, estaria livre para matar Lutero sem
correr o risco de sofrer qualquer sanção penal, já que, pelo referido Edito do
Imperador, Lutero foi banido do Império como um fora-da-lei. Por receio de que
algo de mal pudesse acontecer a Lutero durante viagem de regresso de Worms,
Frederico III (ou Frederico, o Sábio), Príncipe-Eleitor da Saxônia, ordenou que
Lutero fosse capturado e levado para o Castelo de Wartburg, onde estaria a
salvo.
Provavelmente, foi por causa desse risco
de morte que Lutero passou a correr que seu amigo disse que "tentaram
matá-lo". Encontra-se sepultado na Igreja de Wittenberg em Wittenberg.
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